Na realidade, desde minha adolescência meu sonho
sempre foi ser professora, sabe-se lá por qual razão, mas sempre fui apaixonada
pelo magistério. Mas, de início fui traída pelo desejo de alcançar sucesso e
solidez financeira, portanto desconsiderei a possibilidade de fazer magistério
no ensino médio optando por fazer o curso de secretariado. Findo ensino médio,
fiz vestibular para letras, cursei até o terceiro semestre, mas, logo estava
dentro de indústrias trabalhando como secretária e, naturalmente, unindo a
profissão à indisponibilidade de tempo para me dedicar a cursos diurnos, fiz
vestibular para bacharelado em Administração de Empresas. Casei, me formei,
tive três filhos maravilhosos. Mas... o vazio estava ali presente. Sempre que
podia me via ensinando alguém, além dos meus filhos, tarefa que dividia com meu
marido.
Como o mundo dá voltas intermináveis e
imprescritíveis, por conta da asma de minha filha caçula fui conduzida a optar
por me desligar da indústria na qual trabalhava, para cuidar de minha filha,
por conseguinte, reassumir minhas obrigações com mãe, esposa, dona de casa...
Porém, não nasci só para isso, logo meu marido se deu conta que eu precisava de
mais. Sugeriu, então, que fizesse vestibular para Letras Vernáculas com Inglês.
Foi o que fiz. Retornei ao curso, aproveitando as disciplinas cursadas e ao
mesmo tempo fiz o concurso para Especialização em Educação Especial,
simultaneamente, em outra universidade, fiz a Especialização em Psicopedagogia.
Logrei êxito e conclui um após o outro.
Inicialmente, consegui um contrato chamado de REDA –
Regime de Direito Administrativo, para o cargo de professora substituta,
trabalhei quase quatro anos, passando na seleção para professora Licenciada em
Letras Vernáculas com Língua Estrangeira – Inglês. Como minha paixão também
está na Educação Especial, segui fazendo especialização em Tecnologias
Assistiva, Transtornos Mentais, Deficiência Visual – Dosvox, Braille, Libras,
Coordenadora de Laboratório de Informática, Coorderadora de Sala de Recursos
Multifuncionais – A.E.E. Quanto à extensão em Língua Estrangeira, participei de
alguns cursos, inclusive participei de um curso muito importante de longa
duração proporcionado pelo Governo do Estado da Bahia, chamado PSTDP- Public
School Teachers Development Program; fui contemplada em uma seleção para um
Programa para professores na Assembleia Legislativa em Brasília onde tivemos muitas
experiência valiosas. Minha última etapa, até o momento, foi adquirida por
também ter sido contemplada para o PDPI – CAPES/FULBRIGHT, onde tive o prazer
de vivenciar experiências práticas não apenas no campo pedagógico, mas
vivenciando a rotina dos nativos americanos no cotidiano, vivenciando a
experiência como estudante na Miami Dade College, bem como a partir de
experiências culturais, sociais, financeiras (visto que tínhamos que lidar com
a paridade das moedas, bem como gerenciar nossos gastos dentro de outra
realidade em outras circunstâncias não incorporadas em nossa antiga vivência,
ainda que como professores da língua inglesa).
Neste última experiência, relembrei dos conselhos e
orientações que recebemos na semana de preparação prévia à viagem, onde nos foi
passado os efeitos do choque cultural, a euforia prévia, a valorização dos
aspectos positivos, da constatação de fatores estranhos a nossa cultura e da
contabilidade que nem sempre fecharia de forma a contemplar nossas
expectativas.
Como professora, acredito que meus esforços são
extremamente voltados para o objetivo de conseguir um pleno desenvolvimento em
meus alunos, acredito que o professor deve desenvolver uma empatia, quebrar
barreiras, construir pontes que facilitem, estimule e motive os alunos, guiando
os de forma prazerosa em direção a um aprendizado que faça sentido que
ressignifique seus reais propósitos e importância em sua vida presente e
futura.
Acredito que, em primeiro lugar: nossos alunos, em
sua maioria, chegam a nós com um “gap” imensurável em termos de uma educação
básica sólida (fundamental I), sem estímulos, em sua maioria, sem pais
presentes e com professores sem grandes habilitações para esta tarefa extremamente
delicada e de fundamental importância nos resultados futuros para estes alunos.
Estimular a paixão precede a ação de ensinar a aprender. Quando nos estimulam a
paixão pela aprendizagem, desenvolvemos um vício que nos acompanha até nossos momentos
finais. Hoje, os filhos são produtos da tecnologia mal aplicada e administrada,
que traz mais males que benefícios. O nativo digital sabe de todas as
possibilidades de diversão dentro das cyber possibilidades, porém, a tecnologia
se torna desvirtuada e potencialmente perigosa, pois age de forma a destruir no
indivíduo a capacidade de pensar, de analise crítica, de construção e
reconstrução da realidade, dentre outros malefícios.
Na minha escola o uso do celular é proibido, não
acatam nem mesmo a lei que autoriza o uso do celular com fins pedagógicos,
inclusive fiz o curso sobre o uso do celular como instrumento de
potencialização pedagógica.
Outro detalhe, as Atividades Complementares, bem
como quaisquer outras atividades que ocorram dentro do espaço escolar, servem
apenas para os escolhidos “a dedo” (palavra deles) pelos gestores. Se olham
para você e vão com sua cara, seus projetos são bem sucedidos, os equipamentos
funcionam e, tudo corre as mil maravilhas, se você não cai nas graças dos
gestores, não adianta nadar contra a corrente. Não adianta chorar, todo ano as
salas estão entupidas de alunos, no mínimo quarenta, inclusive com grande
quantidade de alunos bi ou tri-repetentes. São poucas as aulas que se consegue
fazer mais que a chamada, visto que o excesso de indisciplina não permite se
alcançar um controle eficaz para que se desenvolva um trabalho a contento.
Hoje, se escolhe como exemplo a turma menos pior. Os
pais assediam os professores buscando conceitos altos que contrariam os
resultados obtidos pelos alunos. As tecnologias não funcionam, ou quando
funcionam são insuficientes (um para todo quadro docente). A maioria das salas
têm quatro pontos de luz, sendo que são pouquíssimas cujos pontos funcionam. Os
colegas não são favoráveis a cederem uma sala já arrumada com todos os
equipamentos necessários para que se alcance os resultados pretendidos em uma
aula de L.E, o que, de certa forma é compreensível, ninguém quer passar sempre
pelo tumulto da romaria de alunos na maioria despreparados e indisciplinados.
Os alunos têm baixas, poucas ou nenhuma expectativa,
nem crença em seus potenciais e capacidades para aprendizagem de L.E.,
inclusive declaram que nem a própria língua materna eles aprenderam (a questão
é: quem é o responsável por essa falha na aprendizagem da L1? alunos, pais ou
professores, levando-se em conta que esta aprendizagem começa nas séries
iniciais, arrisco o palpite nos pais e professores). Assim, minhas aulas estão
encorpadas com meu espírito e alma e os velhos flipcharts, Picture talk, dentre
outras estratégias, whatsapp, facebook.
E, por incrível que possa parecer, estou tendo
grandes resultados, ainda que, navegando em um barco com alunos em excesso. Há
alguns anos atrás, uma americana da Universidade de West Virginia veio visitar
e conhecer meu trabalho com meus alunos, assistiu peças de Shakespeare, ouviu o
coral, no retorno, quando a levei para Salvador, passei antes em minha
residência para que ela usasse o banheiro e se refrescasse para a viagem, ela
olhou minha sala e viu que todo o material de suporte que foi utilizado nas
apresentações não foi feito nem patrocinado pela escola, mas por mim, então
mencionou que lá isto jamais ocorreria, pois eles dispõem de departamentos
direcionados a suprir estas necessidades do professor... Sonha Janice...
O PSTDP e o PDPI me proporcionaram uma visão mais
simplista do ato de ensinar. Tive a oportunidade de assistir uma aula da
professora Shippey, onde com apenas uma pequena poesia ela explorou tudo que se
pode imaginar no ensino do inglês, especialmente a segurança e a oralidade. Vi
tecnologias que já tinha visto por aqui, como o Google drive (fiz um curso no
Núcleo de Tecnologia), o Prezzi.
Acredito que em termos de tecnologias, não ficamos
atrás. O único detalhe é administrativo e gerencial. Os gestores, não sei se
por ingenuidade, por incompetência ou falta de vontade, guardam livros,
equipamentos, especialmente os ligados à tecnologia da comunicação –
laboratórios de informática e demais apetrechos, a sete chaves, de tal forma
que livros mofam e se perdem, computadores oxidam, ou acabam sendo furtados, no
todo ou por partes, os alunos acabam tendo uma ideia palpável do que é a
palavra virtual. Eles sabem que a biblioteca, o wi-fi e os laboratórios estão
ali e existem, porém nunca viram, nem tiveram contato. Portanto, a diferença
entre o que vivenciei fora (EUA) e o que vivencio aqui é uma educação desconexa
e com entraves que obstaculizam e inviabilizam o acesso local (escola) das
tecnologias disponibilizadas.
Se minha práxis foi mudada, com certeza, se foi para
melhor? É claro, e como foi... Se meus alunos estão usufruindo destas mudanças.
Com certeza, apesar de que ainda estou em constante aprimoramento. Hoje me vejo
construindo e reconstruindo meus processos e posturas, mais aprendo que ensino,
me entrego aos meus alunos em busca do que lhes dá prazer e os estimula na
aprendizagem, procuro usar cinestesia, empatia, e sempre estimulo o uso da
oralidade, especialmente por saber que um dos pontos meus pontos fracos em
minha formação como estudante da língua inglesa era justamente a autoconfiança
em me apropriar do discurso na língua inglesa. Se antes eles tinham prazer em
assistir minhas aulas, hoje, sinto em todos a vontade de aprender inglês, e,
pode até parecer pouco, mas a passos pequenos, sei que alcançarei meus
objetivos, e farei questão de partilhar com todos essa minha felicidade.
Obrigada!








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