segunda-feira, 30 de maio de 2016

Minha trajetória até agora



Na realidade, desde minha adolescência meu sonho sempre foi ser professora, sabe-se lá por qual razão, mas sempre fui apaixonada pelo magistério. Mas, de início fui traída pelo desejo de alcançar sucesso e solidez financeira, portanto desconsiderei a possibilidade de fazer magistério no ensino médio optando por fazer o curso de secretariado. Findo ensino médio, fiz vestibular para letras, cursei até o terceiro semestre, mas, logo estava dentro de indústrias trabalhando como secretária e, naturalmente, unindo a profissão à indisponibilidade de tempo para me dedicar a cursos diurnos, fiz vestibular para bacharelado em Administração de Empresas. Casei, me formei, tive três filhos maravilhosos. Mas... o vazio estava ali presente. Sempre que podia me via ensinando alguém, além dos meus filhos, tarefa que dividia com meu marido.
Como o mundo dá voltas intermináveis e imprescritíveis, por conta da asma de minha filha caçula fui conduzida a optar por me desligar da indústria na qual trabalhava, para cuidar de minha filha, por conseguinte, reassumir minhas obrigações com mãe, esposa, dona de casa... Porém, não nasci só para isso, logo meu marido se deu conta que eu precisava de mais. Sugeriu, então, que fizesse vestibular para Letras Vernáculas com Inglês. Foi o que fiz. Retornei ao curso, aproveitando as disciplinas cursadas e ao mesmo tempo fiz o concurso para Especialização em Educação Especial, simultaneamente, em outra universidade, fiz a Especialização em Psicopedagogia. Logrei êxito e conclui um após o outro.



Inicialmente, consegui um contrato chamado de REDA – Regime de Direito Administrativo, para o cargo de professora substituta, trabalhei quase quatro anos, passando na seleção para professora Licenciada em Letras Vernáculas com Língua Estrangeira – Inglês. Como minha paixão também está na Educação Especial, segui fazendo especialização em Tecnologias Assistiva, Transtornos Mentais, Deficiência Visual – Dosvox, Braille, Libras, Coordenadora de Laboratório de Informática, Coorderadora de Sala de Recursos Multifuncionais – A.E.E. Quanto à extensão em Língua Estrangeira, participei de alguns cursos, inclusive participei de um curso muito importante de longa duração proporcionado pelo Governo do Estado da Bahia, chamado PSTDP- Public School Teachers Development Program; fui contemplada em uma seleção para um Programa para professores na Assembleia Legislativa em Brasília onde tivemos muitas experiência valiosas. Minha última etapa, até o momento, foi adquirida por também ter sido contemplada para o PDPI – CAPES/FULBRIGHT, onde tive o prazer de vivenciar experiências práticas não apenas no campo pedagógico, mas vivenciando a rotina dos nativos americanos no cotidiano, vivenciando a experiência como estudante na Miami Dade College, bem como a partir de experiências culturais, sociais, financeiras (visto que tínhamos que lidar com a paridade das moedas, bem como gerenciar nossos gastos dentro de outra realidade em outras circunstâncias não incorporadas em nossa antiga vivência, ainda que como professores da língua inglesa).



Neste última experiência, relembrei dos conselhos e orientações que recebemos na semana de preparação prévia à viagem, onde nos foi passado os efeitos do choque cultural, a euforia prévia, a valorização dos aspectos positivos, da constatação de fatores estranhos a nossa cultura e da contabilidade que nem sempre fecharia de forma a contemplar nossas expectativas.
Como professora, acredito que meus esforços são extremamente voltados para o objetivo de conseguir um pleno desenvolvimento em meus alunos, acredito que o professor deve desenvolver uma empatia, quebrar barreiras, construir pontes que facilitem, estimule e motive os alunos, guiando os de forma prazerosa em direção a um aprendizado que faça sentido que ressignifique seus reais propósitos e importância em sua vida presente e futura.
Acredito que, em primeiro lugar: nossos alunos, em sua maioria, chegam a nós com um “gap” imensurável em termos de uma educação básica sólida (fundamental I), sem estímulos, em sua maioria, sem pais presentes e com professores sem grandes habilitações para esta tarefa extremamente delicada e de fundamental importância nos resultados futuros para estes alunos. Estimular a paixão precede a ação de ensinar a aprender. Quando nos estimulam a paixão pela aprendizagem, desenvolvemos um vício que nos acompanha até nossos momentos finais. Hoje, os filhos são produtos da tecnologia mal aplicada e administrada, que traz mais males que benefícios. O nativo digital sabe de todas as possibilidades de diversão dentro das cyber possibilidades, porém, a tecnologia se torna desvirtuada e potencialmente perigosa, pois age de forma a destruir no indivíduo a capacidade de pensar, de analise crítica, de construção e reconstrução da realidade, dentre outros malefícios.
 


Na minha escola o uso do celular é proibido, não acatam nem mesmo a lei que autoriza o uso do celular com fins pedagógicos, inclusive fiz o curso sobre o uso do celular como instrumento de potencialização pedagógica.
Outro detalhe, as Atividades Complementares, bem como quaisquer outras atividades que ocorram dentro do espaço escolar, servem apenas para os escolhidos “a dedo” (palavra deles) pelos gestores. Se olham para você e vão com sua cara, seus projetos são bem sucedidos, os equipamentos funcionam e, tudo corre as mil maravilhas, se você não cai nas graças dos gestores, não adianta nadar contra a corrente. Não adianta chorar, todo ano as salas estão entupidas de alunos, no mínimo quarenta, inclusive com grande quantidade de alunos bi ou tri-repetentes. São poucas as aulas que se consegue fazer mais que a chamada, visto que o excesso de indisciplina não permite se alcançar um controle eficaz para que se desenvolva um trabalho a contento.

Hoje, se escolhe como exemplo a turma menos pior. Os pais assediam os professores buscando conceitos altos que contrariam os resultados obtidos pelos alunos. As tecnologias não funcionam, ou quando funcionam são insuficientes (um para todo quadro docente). A maioria das salas têm quatro pontos de luz, sendo que são pouquíssimas cujos pontos funcionam. Os colegas não são favoráveis a cederem uma sala já arrumada com todos os equipamentos necessários para que se alcance os resultados pretendidos em uma aula de L.E, o que, de certa forma é compreensível, ninguém quer passar sempre pelo tumulto da romaria de alunos na maioria despreparados e indisciplinados.
Os alunos têm baixas, poucas ou nenhuma expectativa, nem crença em seus potenciais e capacidades para aprendizagem de L.E., inclusive declaram que nem a própria língua materna eles aprenderam (a questão é: quem é o responsável por essa falha na aprendizagem da L1? alunos, pais ou professores, levando-se em conta que esta aprendizagem começa nas séries iniciais, arrisco o palpite nos pais e professores). Assim, minhas aulas estão encorpadas com meu espírito e alma e os velhos flipcharts, Picture talk, dentre outras estratégias, whatsapp, facebook.
E, por incrível que possa parecer, estou tendo grandes resultados, ainda que, navegando em um barco com alunos em excesso. Há alguns anos atrás, uma americana da Universidade de West Virginia veio visitar e conhecer meu trabalho com meus alunos, assistiu peças de Shakespeare, ouviu o coral, no retorno, quando a levei para Salvador, passei antes em minha residência para que ela usasse o banheiro e se refrescasse para a viagem, ela olhou minha sala e viu que todo o material de suporte que foi utilizado nas apresentações não foi feito nem patrocinado pela escola, mas por mim, então mencionou que lá isto jamais ocorreria, pois eles dispõem de departamentos direcionados a suprir estas necessidades do professor... Sonha Janice...
O PSTDP e o PDPI me proporcionaram uma visão mais simplista do ato de ensinar. Tive a oportunidade de assistir uma aula da professora Shippey, onde com apenas uma pequena poesia ela explorou tudo que se pode imaginar no ensino do inglês, especialmente a segurança e a oralidade. Vi tecnologias que já tinha visto por aqui, como o Google drive (fiz um curso no Núcleo de Tecnologia), o Prezzi.
Acredito que em termos de tecnologias, não ficamos atrás. O único detalhe é administrativo e gerencial. Os gestores, não sei se por ingenuidade, por incompetência ou falta de vontade, guardam livros, equipamentos, especialmente os ligados à tecnologia da comunicação – laboratórios de informática e demais apetrechos, a sete chaves, de tal forma que livros mofam e se perdem, computadores oxidam, ou acabam sendo furtados, no todo ou por partes, os alunos acabam tendo uma ideia palpável do que é a palavra virtual. Eles sabem que a biblioteca, o wi-fi e os laboratórios estão ali e existem, porém nunca viram, nem tiveram contato. Portanto, a diferença entre o que vivenciei fora (EUA) e o que vivencio aqui é uma educação desconexa e com entraves que obstaculizam e inviabilizam o acesso local (escola) das tecnologias disponibilizadas.
Se minha práxis foi mudada, com certeza, se foi para melhor? É claro, e como foi... Se meus alunos estão usufruindo destas mudanças. Com certeza, apesar de que ainda estou em constante aprimoramento. Hoje me vejo construindo e reconstruindo meus processos e posturas, mais aprendo que ensino, me entrego aos meus alunos em busca do que lhes dá prazer e os estimula na aprendizagem, procuro usar cinestesia, empatia, e sempre estimulo o uso da oralidade, especialmente por saber que um dos pontos meus pontos fracos em minha formação como estudante da língua inglesa era justamente a autoconfiança em me apropriar do discurso na língua inglesa. Se antes eles tinham prazer em assistir minhas aulas, hoje, sinto em todos a vontade de aprender inglês, e, pode até parecer pouco, mas a passos pequenos, sei que alcançarei meus objetivos, e farei questão de partilhar com todos essa minha felicidade.
Obrigada!
 





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